08 de março para quem?



No dia 08 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos em NY fizeram uma greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução da jornada diária de trabalho para 10 horas (as fábricas exigiam 16 horas), equiparação de salários com os homens e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência, onde trancaram as mulheres dentro da fábrica e incendiaram. 129 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano. Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).
O Dia Internacional da Mulher não é apenas uma data para se comemorar, é uma data de lutas. Luta contra o machismo, contra os assédios.


08 de março para quem?


É estranho, falta algo! Onde estavam as mulheres negras neste processo de luta por melhores condições de trabalho feminino no século XIX? Bom, no Brasil, elas estavam se livrando dos grilhões da escravidão. Mas continuavam servindo à classe burguesa. Eram empregadas, amas de leite e diversão dos senhores. Mulheres sem nome e sem voz, tratadas como animais, para quem o trabalho era sinônimo de dor irremediável e sem volta. (Lorena Cristina)
Sem dúvidas o dia 8 de março foi um marco para a visibilidade da mulher nos espaços sociais, mas se pararmos para uma analise, de que mulheres estamos falando? Daniela Gomes, em seu documentário de 25 de julho, conta que no inicio do século XX enquanto as mulheres brancas lutavam por melhores condições de trabalho, a mulher negra estava em processo de libertação. Como diz Lorena, eram escravas "livres".
Historicamente a mulher negra é vista como serviçal, empregada, ama de leite, babá dos filhos para que as mulheres brancas conquistassem sua independência social. E engana-se quem pensa que hoje em dia a realidade é outra. Por exemplo, em 2014 uma marca de roupas, em meio as "homenagens" do 8 de março, em sua campanha sobre a semana da mulher brasileira, teve a terrível ideia de criar um vídeo onde uma mulher branca era servida por mãos negras. As mulheres historicamente foram divididas e hoje não é diferente.
Majoritariamente, as mulheres homenageadas nesta data são brancas, loiras, magras, que têm tempo para fazer a unha, sair para fazer comprinhas com as amigas no final de semana, enquanto a mulher negra vai para seu segundo emprego no final de semana, a serviçal preta que usa o transporte público e sofre com o racismo. É assim que nós, mulheres negras, somos enxergadas. 
Por estes e tantos outros motivos devemos analisar o 8 de março. A quem estamos parabenizando com as homenagens? De qual mulher estamos falando no "Dia Internacional da Mulher"? Esta data, como falei, sem dúvidas é um marco importante para a luta feminina, mas devemos rever qual mulher estamos homenageando neste dia.

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